

Título: Menina Boa, Menina Má
Autor: Ali Land
Editora: Suma de Letras
Ano de publicação: 2017
Páginas: 384
Hoje trago-vos o primeiro post literário aqui do blogue – e digo-vos já que começamos muito bem. Um dos favoritos do ano até agora!
Menina Boa, Menina Má é um thriller psicológico de Ali Land, traduzido e publicado em Portugal pela Suma de Letras. Neste livro, acompanhamos a história da Annie, uma menina cuja mãe é serial killer. No primeiro capítulo, a Annie está na esquadra da polícia, a contar tudo sobre os crimes da mãe – ela tortura e mata crianças num quarto a que chama de “parque infantil” e, depois, cabe à Annie livrar-se dos corpos, isto é, embrulhá-los e levá-los para a cave. Annie foi abusada de todas as formas possíveis pela própria mãe, e era obrigada a assistir e participar nos crimes, sendo que, como podem imaginar, tem graves traumas e distúrbios psicológicos.
Como a sua mãe é detida, e Annie é menor, vai viver com uma família de acolhimento – cujo patriarca é um psicólogo que a vai acompanhar e preparar mentalmente para o julgamento. Annie muda de nome: assume uma nova identidade como Milly e muda de escola, de amigos, de vida. Vamos acompanhá-la desde que se muda para a nova casa, até depois do julgamento da sua mãe. Durante todo este tempo, lidamos com muitas situações diferentes: bullying, violência, chantagem/manipulação – bem como os flashbacks de Milly, durante os quais ficamos a saber as coisas horríveis que a mãe lhe fez desde tenra idade.
O ‘tema’ permanente é o conflito interior de Milly, que não quer ser, ou vir a ser, como a mãe, mas ao mesmo tempo, sente que virá a ser exactamente como ela. Afinal, quem sai aos seus não degenera, não é?
Confesso que fiquei rendida à autora, e até me parece impossível que este seja o seu primeiro livro. Está, de facto, muito bem escrito, e muito bem pensado. O enredo é intrigante e cativante, e mexeu muito comigo. Especialmente nos flashbacks… a mãe da protagonista era mesmo horrível #VádeRetroSatanás
Apesar da temática séria e pesadíssima, ri bastante durante a leitura. Aliás, cerca de metade dos meus marcadores neste livro são azuis, que é a minha cor do humor. Pode parecer um pouco estranho haver humor nesta história, mas não é. Especialmente considerando que grande parte das interacções que vemos são entre adolescentes!
Por outro lado, interacções entre adolescentes podem levar a situações frustrantes como esta:
“Meu onde raio é que estavas enfiado, estou à tua procura há que tempos. Estão a passar-se cenas verdadeiramente maradas na cozinha.”
O Toby limpa a boca desidratada com as costas da mão, aponta para nós.“Estava só a divertir-me com a fauna local, já sabes como é.”
Durante a leitura, tive sempre a sensação de que a autora sabia do que estava a falar pela maneira como descrevia os pensamentos e atitudes de todos os personagens. De facto, a minha suspeita confirma-se, pois no pequeno texto sobre a autora percebemos que não só é licenciada em Saúde Mental, como trabalhou num hospital de saúde mental infantil e adolescente. Isto foi, na minha opinião, uma grande mais-valia, porque Ali Land sabe mesmo manipular as emoções do leitor, e descrever com verosimilhança o que a personagem principal, que narra o texto, sente em variadas situações. Trata-se, portanto, de um thriller psicológico com conhecimento de causa.
“Quem me dera estar sozinha, poderia contar as minhas cicatrizes.”
“Também gostaria de dormir, só que, sempre que fecho os olhos, vejo nove coisinhas pequeninas a chorar, a apontar para mim, a pedir ajuda.”
Em geral, este livro é muito bom. Está bem escrito e bem executado. Tenho apenas a apontar alguns problemas de tradução, mas isso nada tem a ver com o livro em si, portanto não conta para a minha avaliação. Só não lhe dou as 5 estrelas completas porque não acho que esteja ao nível d’O Homem de Giz ou do The Wife Between Us, por exemplo.
Vou, definitivamente, ficar atenta a novos livros da autora. Estou entusiasmada para o que aí vem, especialmente sendo o seu primeiro livro já tão bom.
★★★★☆ 4.5/5 estrelas
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