[…] O Diário Oculto de Nora Rute é uma leitura leve, cheia de humor e ‘portuguesices’ que eu adorei, por isso é perfeita para esta categoria 😉 Podem ler a minha extensa opinião aqui. […]

Há pouco tempo gravei um vídeo sobre os meus objectivos para 2018. Quem o viu, sabe que um deles é ler autores portugueses. Até agora, não tinha lido nenhum livro de autoria nacional, mas ontem deu-me vontade de pegar n’O Diário Oculto de Nora Rute – e não me arrependi.
Para começar, é um livro curto (cento e tal páginas) que eu li numa tarde – o que é perfeito para esta altura em que há que estudar para os testes que aí vêm. Como o título indica, a história é contada na forma de entradas num diário, o que torna a leitura muito rápida.
Hoje não escrevo mais, é sábado, apetece-me farra. De que tipo, logo se vê. Talvez só uns copos e conversa, talvez a maldade de seduzir um rapazito – e deixá-lo de mãos a abanar. Lá onde ele vá abanar as mãos, não me diz respeito.
Em 1969, Nora Rute, a personagem principal, é uma rapariga de 21 anos, proveniente de uma família abastada. Como sabem, é uma altura conturbada na história do nosso país, uma época de viragem. Este ano como pano de fundo foi uma das melhores partes desta leitura, não porque me identifiquei com a situação política e social, felizmente, mas porque ilustra tudo aquilo que os meus avós me transmitiram dos seus tempos de juventude, e algo que a minha família experienciou. Fala-se na quantidade de porteiras portuguesas em Paris – a minha avó materna foi uma delas -, na Guerra Colonial e nos refractários (quem não tem um parente que esteve na guerra, ou que fugiu para a evitar?). Fala-se nos primórdios da RTP e na vitória da Desfolhada Portuguesa no Festival, na inauguração da Gulbenkian, no Café Império e na inexistência de uma auto-estrada que ligasse Lisboa ao Sul. Fala-se no pânico do sismo de 1969, algo que me foi relatado pela minha outra avó inúmeras vezes – ela fala sempre nos bibelôts que tombaram na prateleira que tinha por cima da cama. 1969 é um ano importante para a minha família – os meus avós casam em Março, e a minha mãe nasce em Setembro, de forma que este livro veio mesmo a calhar, já que o aniversário de casamento é esta semana, e a minha avó vai adorar quando eu lhe falar sobre este livro.
São seis da tarde e ainda não estou em mim. Ouvi o apregoar de um ardina e corri a comprar jornais. Tenho na minha frente o Diário de Lisboa que resume, a toda a largura da primeira página: NOITE DE PÂNICO. É o título que parece retratar o meu próprio terror quando acordei com o abanar da cama, do quarto, da casa.
Nora Rute é muito parecida comigo, portanto foi fácil identificar-me com a sua personagem. É uma miúda que não sabe bem o que quer, tem pouca sorte nas relações amorosas e é toda pra frentex, como se costuma dizer. Viaja sozinha e devora livros. Gosta das ‘modernices’ que o seu pai, apoiante de Salazar, odeia, e por isso mesmo ela ainda faz pior. Não gosta de minissaias? Então é isso mesmo que a Nora vai usar! Tanto o humor, como as reacções, os hábitos, os ideais, etc. são tão próximos dos meus que, por vezes, quase parecia estar a ler o meu próprio diário. Aliás, até a sua inconsistência no que toca à escrita no dito diário é algo com que me identifico. Só é pena não me identificar com a sua conta bancária…
Sê paciente, Diário, tanto a falar como a escrever, perco-me por atalhos, ando às voltas. Necessárias, aliás, para que me conheças e saibas quem me rodeia.
Confesso que costumo ter medo de autores homens a escrever da perspectiva de mulheres – até porque costuma dar asneira – mas, felizmente, Mário Zambujal fez um óptimo trabalho na construção da personagem de Nora Rute. Ah, e não podia deixar de vos trazer esta citação maravilhosa:
Nem vou explicar ao meu amigo Diário que o desatino com o beijo nada teve a ver com ardores sensuais. Resultou de me engasgar por ele ter enfiado a língua até às amígdalas.
Há muito humor neste pequeno livro, e também existe crítica social – subtil, mas suficientemente arrojada para se notar. Houve muitas alturas em que soltei gargalhadas com situações ou diálogos engraçados. Adorei os personagens, especialmente Nora e Sílvia, a sua melhor amiga. Houve duas personagens daquelas irritantes que fazem ter pensamentos homicidas – vocês sabem do que estou a falar – mas, claro, são essenciais à história.
Devias agradecer-me Diário: o homem ainda estará à minha espera e é a ti que venho dar uma mãozinha. Não te excites.
Resumindo e concluindo, eu ADOREI esta leitura e quero, com toda a certeza, explorar outros livros do autor no futuro. Adorei a escrita, os personagens, a própria história, tudo. Até a capa é maravilhosa!!
Espero que, se um dia tiverem oportunidade, peguem neste livro – vale mesmo a pena. Talvez eu seja suspeita, por tudo aquilo que mencionei acima, e o valor ‘sentimental’ da época em que se passa a história, mas acredito que qualquer pessoa irá gostar desta leitura.
[…] O Diário Oculto de Nora Rute é uma leitura leve, cheia de humor e ‘portuguesices’ que eu adorei, por isso é perfeita para esta categoria 😉 Podem ler a minha extensa opinião aqui. […]