

Título: Talismã
Autor: Mário Zambujal
Editora: Clube do Autor
Ano de publicação: 2015
Páginas: 151
Onde comprar (portes grátis): Wook
Como já devem saber, Mário Zambujal é o meu novo autor preferido. Como tal, tenho comprado e lido tudo o que consigo – o que, infelizmente, não é muito por causa da faculdade. Este é o segundo livro que leio do autor no espaço de um mês, e a minha vontade é nunca mais parar até ler tudo o que publicou.
A História
Em Talismã, seguimos o Pablo que, numa noite de Santos Populares, tem um ‘encontro’ amoroso com uma rapariga desconhecida que perdeu um sapato na multidão. Eles beijam-se e, logo de seguida, aparece um homem que diz à rapariga, Diana, que os seus pais andam à sua procura, preocupados. Ela vai-se embora com o tal homem, e Pablo não tem o discernimento de lhe pedir o número. Assim, decide voltar a encontrar Diana, e faz disso uma prioridade na sua vida.
Nada tenho contra os santos populares, pelo contrário, admiro-os por serem santos e populares ao mesmo tempo. Estranho é que os haja impopulares, apenas solicitados em alguma particular aflição (p. 10)
Entretanto, a sua vida dá uma enorme volta quando perde o emprego e, num golpe de sorte (ou não), arranja outro. A partir daqui, vemos as peripécias que surgem enquanto Pablo procura a sua Diana e se envolve em trabalhos de alto risco, acabando por ficar no centro de uma guerra pela conquista de um talismã.
Opinião
Apesar de não me ter tocado tanto como O Diário Oculto de Nora Rute, adorei a leitura deste livro. Cada vez aprecio mais a escrita do autor e a sua ironia. É impressionante como, tendo 60 anos a menos que o escritor, me consigo identificar com a sua forma de pensar e, especialmente, com o seu humor.
Pressinto que vou ganhar dinheiro grado, pensarei em carro novo, mas será uma dor de alma despedir-me do companheiro de tantos anos. Quem nunca aceitou meter-se nele foi a Gracinha Rute. Que horror, não ponho o rabo nesse chaço – dizia. Contradições: o armazém dos nossos festins era mais de cadente e muito acelerávamos, sem travões. Nas curvas mais apertadas era ela a conduzir. (p. 49)
O autor faz uma espécie de reflexão/crítica à crença das pessoas em talismãs e amuletos, bem como à religião. Como podem perceber pelo título, um dos pontos mais importantes do livro é, precisamente, um talismã que, supostamente, protege quem o tiver em sua posse de qualquer perigo. No entanto, tal como a crença religiosa, muitas vezes a posse de objectos como estes leva as pessoas a cometer actos radicais – por vezes, até matam!
Garante-me Aniceto que está quase curado, só resiste uma pontinha de febre.
– Esquisito, meu caro, é não ter o amuleto evitado a gripe – provoco-o.
Sei que não ficarei sem resposta, vem logo:
– Se não fosse o amuleto isto dava em pneumonia. (p. 78)
Existe também alguma crítica à sociedade actual, que se baseia na tecnologia e redes sociais – algo que presumo ser surreal para o autor. Existe até um casal que, levado ao extremo por Zambujal, não se fala de todo, sem ser por SMS ou e-mail (ou, como ele escreve, imeil). As suas interacções eram, simultaneamente, hilariantes e tristes, já que não duvido que existam casais assim fora da literatura.
– [N]ão se preocupe comigo. De certo modo estou com a Vivi, ainda agora recebi uma mensagem que posso ler: “Flávi, doçura, desculpa, esta manhã não mandei os bons-dias, esqueci o telemóvel no quarto e passei a manhã no computador. À noite não te esqueças de ler o sms de boas-noites.” Não é uma ternura?
– Lindo.
– Exacto, sinto-me em casa. (pp. 114-115)
Talismã é uma leitura muito curta, com apenas cerca de 150 páginas, mas cheia de peripécias, humor, crítica social e ironia. Tem também ordinarice q.b. Lê-se numa tarde, e garanto que vale a pena.
Um firme viciado na leitura não se aguenta sem ela. (p. 117)
★★★★☆ 4.5/5 estrelas