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Vanessa Teixeira

5 estrelas•nacional•resenha

Uma Abelha na Chuva | Carlos de Oliveira

August 2, 2018

Título: Uma Abelha na Chuva
Autor: Carlos de Oliveira
Editora: Livraria Sá da Costa
Ano de publicação: 1980
Páginas: 180

Onde comprar (portes grátis): Wook


Num dia destes, o meu pai trouxe um livro da biblioteca, daqueles que estão num caixote para dar a quem os quiser. Assim que vi o livro, reconheci o título e o autor, já que o Hugo tinha feito opinião não há muito tempo. Peguei nele nessa noite, e terminei-o no dia seguinte.

Uma Abelha na Chuva conta-nos a história de Álvaro e Maria dos Prazeres, casados por interesse. Casaram numa altura em que as famílias fidalgas se encontravam falidas e, como tal, casavam as suas filhas com comerciantes e lavradores. “Sangue por dinheiro”, como nos conta o autor. No início da narrativa, Álvaro dirige-se, a pé e enlameado, à redacção da Comarca de Corgos. Pretende publicar no jornal uma confissão dos seus pecados, para poder, de alguma forma, redimir-se. A partir daqui, desenvolve-se a história deste casal – com um enredo super dramático que me prendeu do início ao fim.

Como sabem, um dos meus objectivos para este ano era ler obras nacionais. Tenho conseguido fazê-lo, e tenho lido obras fantásticas – mas também já me desiludi com outras… Uma Abelha na Chuva insere-se na categoria de surpresas agradáveis, já que foi uma leitura bastante prazerosa. Com apenas 180 páginas (sendo que as edições mais recentes têm cerca de 130), Uma Abelha na Chuva é uma leitura rápida e compulsiva. O dramatismo de todos os acontecimentos é digno de uma telenovela mexicana, e é também algo que prende o leitor e não o larga até que a leitura esteja terminada.

Domingo, dia de missa, consultório e chinquilho nas tascas, dia de levar a garotada à malga do barbeiro: enfia-se a malga pela cabeça dos rapazes e o Albano faz a tosquia circular ao longo do rebordo; vem depois o disfarce, operação de pente e tesourada larga, que só não acaba de tornar o cachopo num verdadeiro urso, porque a cabeça dos ursos não é às escadinhas, como dizia depreciativamente o Rocha, que trazia um filho, em Corgos, a aprender o ofício na Barbearia Perfeição. (p. 176)

O livro tem um elenco reduzido, talvez uns sete ou oito personagens que surgem frequentemente, mas todos muito distintos. Há personagens para todos os gostos, e partilho já convosco a minha predilecta: D.ª Violante. Esta senhora fez-me rir várias vezes com os seus inúmeros provérbios, o que cortou um pouco a tristeza que está patente durante a leitura.

A escrita do autor diz-nos logo que este escreve poesia. É muito elaborada, e até ritmada, mas isso não torna, de todo, difícil a leitura de Uma Abelha na Chuva. Confesso que fiquei rendida, e gostaria de explorar mais a obra do autor.

Por hábito, lançou os olhos às colmeias, que lhe ficavam mesmo em frente, dez ou doze metros, se tanto, e viu uma abelha voar da Cidade Verde. Baptizava as colmeias conforme a cor de que as pintara, Cidade Verde, Cidade Azul, Cidade Roxa. A abelha foi apanhada pela chuva: vergastadas, impulsos, fios do aguaceiro a enredá-la, golpes de vento a ferirem-lhe o voo. Deu com as asas em terra e uma bátega mais forte espezinhou-a. Arrastou-se no saibro, debateu-se ainda, mas a voragem acabou por levá-la com as folhas mortas. (pp. 179-80)

É também uma obra interessante por representar a sociedade portuguesa de há umas décadas atrás. Retrata o quotidiano dos portugueses, bem como a situação política e económica da época, tanto na metrópole, como nas então colónias portuguesas. Isto implica, como devem calcular, racismo e sexismo, tendo em conta a época retratada e o colonialismo.

Não leias esta passagem à cunhada, mas fica sabendo que uma preta, bem espremida, deita mais sumo do que uma laranja. A questão é enchê-las dumas aguardentes lêvedas que por aqui há e eu quero ver onde é que está a branca que dê um rendimento destes. (p. 65)

Como foi anteriormente mencionado, a tristeza é algo proeminente em Uma Abelha na Chuva. A obra fala-nos sobre pessoas que vivem infelizes. Sobre a morte, a guerra e o colonialismo. Sobre amores forçados e amores impossíveis, proibidos. No entanto, o autor consegue encontrar um equilíbrio entre o tom de desgraça e o humor ou situações mais corriqueiras, tornando esta uma leitura agradável.

Em jeito de conclusão, Uma Abelha na Chuva surpreendeu-me pela positiva: foi uma leitura rapidíssima e cativante, que me fez devorar compulsivamente as suas páginas – e me arrebatou sem que eu o esperasse.

5/5 estrelas

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Comments

  1. Liliana Silva says

    August 2, 2018 at 2:01 pm

    Olá!
    Nunca tinha ouvido falar deste livro, mas parece bastante interessante!
    Obrigada pela sugestão, vou adicioná-lo à minha lista!
    Beijinhos

    http://a-lilianaraquel.blogspot.com

    Reply
  2. Vanessa 'The Bookish Deer' says

    August 2, 2018 at 2:11 pm

    Olá, Liliana! É muito, e lê-se num instante. Ideal para uma tarde chuvosa 😋
    Beijinhos e boas leituras! ♡

    Reply
  3. André Coelho says

    August 2, 2018 at 4:17 pm

    Olá!

    A tua visão sobre o livro fez-me ganhar uma certa curiosidade sobre ele e outros livros que se encontram escondidos no meio de tantos…

    Obrigado pela tu visão sobre ele 🙂

    Reply
  4. Vanessa 'The Bookish Deer' says

    August 2, 2018 at 4:39 pm

    Olá! Isso é que se quer 😀
    Obrigada eu por visitares o blog! Vi que começaste agora o teu e já segui.
    Boas leituras

    Reply

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  1. TAG | 7 Provérbios, 7 Livros says:
    September 12, 2018 at 6:01 pm

    […] Uma Abelha na Chuva de Carlos de Oliveira (opinião aqui) […]

    Reply
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Este mês li 𝘈 𝘏𝘪𝘱ó𝘵𝘦𝘴𝘦 𝘥𝘰 𝘈𝘮𝘰𝘳 e gostei muito! É um romance leve que envolve muitas peripécias e situações engraçadas.
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𝗟𝗲𝗶𝗮𝗺 𝗮 𝗿𝗲𝘃𝗶𝗲𝘄 𝗻𝗼 𝗯𝗹𝗼𝗴𝘂𝗲 𝗲 𝗰𝗼𝗺𝗲𝗻𝘁𝗲𝗺 𝘀𝗲 𝗳𝗶𝗰𝗮𝗿𝗮𝗺 𝗰𝘂𝗿𝗶𝗼𝘀𝗼𝘀! 👇🏼
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Este mês, estou a sentir-me muito confiante e ambiciosa em termos de leitura, por isso decidi esticar-me na TBR. Escolhi nove livros no total, vamos ver se consigo cumprir 💪🏼
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Junho é também o mês de celebração do orgulho LGBT, por isso escolhi dois livros com representação LGBTQ+ para juntar a esta pilha e ler em honra desta celebração.

Mais sobre estes livros no post que saiu no blogue! 𝗹𝗶𝗻𝗸 𝗻𝗮 𝗯𝗶𝗼 👉🏼 @vanessateixeira.pt 
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𝗖𝗼𝗻𝘁𝗮-𝗺𝗲 𝗾𝘂𝗲 𝗹𝗶𝘃𝗿𝗼𝘀 𝘃𝗮𝗶𝘀 𝗹𝗲𝗿 𝗲𝗺 𝗷𝘂𝗻𝗵𝗼! 👇🏼
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Como sabes, junho é o mês de celebração do orgulho LGBT. Por isso, hoje trago-te cinco livros com representação LGBT que podes acrescentar à tua TBR. A maioria das sugestões são livros jovem adulto, sendo que alguns deles lidam com o tema de forma mais leve, outros num tom mais sério. Se já os leste, deixa a tua opinião nos comentários! 🤩
⠀
𝙏𝙚𝙣𝙨 𝙨𝙪𝙜𝙚𝙨𝙩õ𝙚𝙨 𝙙𝙚 𝙡𝙞𝙫𝙧𝙤𝙨 𝙇𝙂𝘽𝙏𝙌+? 📚 𝘾𝙤𝙣𝙩𝙚𝙢-𝙢𝙚 𝙣𝙤𝙨 𝙘𝙤𝙢𝙚𝙣𝙩á𝙧𝙞𝙤𝙨!
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𝗮 𝗽𝗲𝗿𝗳𝗲𝗰𝘁 𝘀𝘂𝗺𝗺 𝗮 𝗽𝗲𝗿𝗳𝗲𝗰𝘁 𝘀𝘂𝗺𝗺𝗲𝗿 𝗿𝗼𝗺𝗮𝗻𝗰𝗲 ☀️
⠀
Saiu no blogue a review deste livro fantástico 😻 É a primeira leitura 5 estrelas do ano, por isso vai lá espreitar 😉
⠀
𝙌𝙪𝙚𝙢 𝙟á 𝙡𝙚𝙪 𝙚𝙨𝙩𝙚 𝙡𝙞𝙫𝙧𝙤? 🧐 𝘾𝙤𝙣𝙩𝙚𝙢-𝙢𝙚 𝙣𝙤𝙨 𝙘𝙤𝙢𝙚𝙣𝙩á𝙧𝙞𝙤𝙨!
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Um dos livros que li ultimamente, presente da @boo Um dos livros que li ultimamente, presente da @bookchicboutique 💞
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Lore Olympus é uma novela gráfica sobre Hades e Perséfone, sendo o mito recontado nos tempos modernos. É um retelling mitológico muito interessante e fácil de ler. Trata temas muito importantes, por isso é um essencial para as nossas estantes 👌🏼 REVIEW NO BLOG 😉
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Saiu no blogue um artigo sobre os livros que quero ler durante o mês de abril. A @teawithmel lançou um vídeo sobre a maratona Påskekrim que vai decorrer entre os dias 15 e 24 deste mês. Tendo em conta esta maratona, que é a minha cara, ainda vou adicionar uns livros a esta lista 😁
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𝙀 𝙫𝙤𝙘𝙚𝙨, 𝙤 𝙦𝙪𝙚 𝙫ã𝙤 𝙡𝙚𝙧 𝙚𝙨𝙩𝙚 𝙢ês? 🧐 𝘾𝙤𝙣𝙩𝙚𝙢-𝙢𝙚 𝙣𝙤𝙨 𝙘𝙤𝙢𝙚𝙣𝙩á𝙧𝙞𝙤𝙨! 
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